segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A noite

A noite chega com todos os seus rebanhos

Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo.

Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.

Os navios deslizam nos estuários do vento.

Alguma coisa ascende de uma região negra.

Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.

A passageira da noite vacila como um ser silencioso.

O último pássaro calou-se. As estrelas acenderam-se.

As ondas adormeceram com as cores e as imagens.

As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.

Que sedosa e fluida é a água desta noite!

Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.

Alguém me habita como uma árvore ou um planeta. 

Estou perto e estou longe no coração do mundo.


 ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 218.

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