domingo, 10 de agosto de 2025

Tu versus Eu

Tu procuras saber

Eu não procuro porque sei que nunca saberei

Tu queres abrir as portas do conhecimento para fundares a tua integridade 

Eu entrego-me ao vago e indefinível vagar

Da luz sobre a página que nunca é um oásis 

e não conduz ao plácido porto que nela pressentimos

Tu desejas ir além das sequências quotidianas

Eu procuro também um além

Mas no interior da sombra do meu corpo

ao ritmo da respiração 

para fortalecer a minha incerta identidade 

Tu não desistes de conhecer a lucidez do centro 

para que a vida encontre o seu equilíbrio e o seu horizonte 

Eu não conheço outro horizonte além da vaga claridade 

que às vezes brilha no silêncio de um abandono

ou no fluir das palavras que procuram a nudez

Tu procuras algo que transcende o mundo

Eu procuro o mundo no mundo ou para aquém dele

Eu sei que a fragilidade pode cintilar

como uma constelação ou como um delta

quando o corpo se entrega sobre as dunas do silêncio 

Tu queres ser a coluna ou a balança viva

do puro equilíbrio que sustenta o mundo.

Ao ler este poema lembro-me dos opostos e do Xpto 


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 239.

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