quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Rafael Bordalo Pinheiro


Rafael Bordalo Pinheiro, marcado pelo ambiente artístico da casa paterna, sendo que o seu pai Manuel Maria Bordalo Pinheiro, era funcionário do Estado, bastante modesto, e, simultaneamente, pintor sem grande qualidade mas muito entusiasmo. Columbano tem alguns belos desenhos que evocam os serões domésticos com gatos, o animal eleito de Rafael, e muitos desenhos à mesa, à luz de candeeiro.

Tendo em conta a personalidade das principais figuras culturais de então, Rafael Bordalo Pinheiro destaca-se pela modernidade militante, pelo optimismo visceral e pela tranquilidade com que sempre viveu a sua agitada e nada fácil vida. No entanto, ele é saudavelmente um desiludido com as pessoas – que, para ele, todas são corruptíveis – e, sobretudo, com as instituições que, mesmo depois das reformas, regressam ao mesmo: arrogância e ignorância. A História é um palco em que a intriga é sempre a mesma. Delineia-a como comédia e farsa, não como tragédia. Usa o riso para provocar e agredir mas não para curar o que não tem cura.

Entende o atraso do país, a sua sebastiana megalomania, a sua preguiça e trafulhice e está sinceramente convencido que não tem cura. Descrê do Rotativismo monárquico (cujos podres conheceu como ninguém) mas não é grande entusiasta da República. Sabe que Portugal será sempre um peão, ou uma bola de sabão a desfazer-se nas mãos interesseiras de John Bull ou do Kaiser. Este é o contexto da criação do Zé Povinho, esperto e matreiro, sem moral nenhuma: se pudesse trepava para as costas dos que o cavalam a ele. Não gosta de trabalhar e prefere resignar-se do que a combater. O manguito é o seu gesto filosófico perante os desacertos do mundo. Esta descrença não foi para Rafael Bordalo Pinheiro um estado de alma, antes uma espécie de filosofia social, ancorada na ciência do seu tempo dominada pelas teorias de Darwin e a morte de Deus. Por isso ele foi tão diferente dos seus contemporâneos artistas como ele.Trabalhando em jornalismo, ele amava as máquinas e as suas novas possibilidades de edição. Amava trabalhar em conjunto, improvisar, colar-se na cadeia de produção em lugar estratégico, dominando e intervindo em todas as fases.Usou a arte como sistema complexo e múltiplo de comunicação, misturada e intensificada pelo texto.Homem do seu tempo, apaixonado pelo progresso técnico deixa-se envolver pelos projectos do mano empresário e embarca na aventura de fazer uma fábrica para renovar as artes populares do barro. Age, nesta questão, como homem das Arts and Crafts, próximo de John Ruskin que talvez nem conhecesse. 


FONTE: Raquel Henriques da Silva in http://www.museubordalopinheiro.pt/0101.htm

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