sexta-feira, 8 de março de 2019

Demoras


O amor nos condena:
Demoras
Mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.

Espero-te antes de haver vida
E és tu quem faz nascer os dias.

Quando chegas
Já não sou senão saudade
E as flores
Tombam-me dos braços
Para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
Em que te aguardo,
Só me resta água no lábio
Para aplacar a tua sede.

Envelhecida a palavra,
Tomo a lua por minha boca
E a noite, já sem voz,
Se vai despindo de ti.

O teu vestido tomba
E é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
Um rio se vai aguando até ser mar.  

COUTO, Mia, A demora, 3.ª edição, Alfragide, Caminho, 2016, pp. 110-111.

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