O amor nos condena:
Demoras
Mesmo quando chegas
antes.
Porque não é no tempo
que eu te espero.
Espero-te antes de
haver vida
E és tu quem faz nascer
os dias.
Quando chegas
Já não sou senão
saudade
E as flores
Tombam-me dos braços
Para dar cor ao chão em
que te ergues.
Perdido o lugar
Em que te aguardo,
Só me resta água no
lábio
Para aplacar a tua
sede.
Envelhecida a palavra,
Tomo a lua por minha
boca
E a noite, já sem voz,
Se vai despindo de ti.
O teu vestido tomba
E é uma nuvem.
O teu corpo se deita no
meu,
Um rio se vai aguando
até ser mar.
COUTO, Mia, A demora, 3.ª edição, Alfragide, Caminho, 2016, pp. 110-111.
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