Ocorreu-me ontem
que
não vejo o
correio há uma semana,
e que nem por
isso sou mais feliz ou infeliz;
a felicidade não
depende certamente de coisas como o correio
ou como o temor e
o desejo,
depende talvez
mais, pelo menos para já,
da certeza de que
os papéis estão arrumados,
pagas as dívidas,
intacta ainda a
possibilidade de morrer.
Um dia destes, se
fosse caso disso,
escrever-te-ia sobre a discordante paixão da
imortalidade.
(…)
PINA, Manuel
António, Cuidados
intensivos – consolação de G. a Paulina, Poesia, saudade da prosa – uma antologia pessoal, Lisboa, 2.ª edição,
Assírio & Alvim, 2015, p. 35.
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