quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A festa do silêncio

 Escuto na palavra a festa do silêncio. 

Tudo está no sítio. As aparências apagaram-se.

As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.

Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.

É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.


Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,

O ar prolonga. A brancura é o caminho.

Surpresa e não surpresa: a simples respiração.

Relações, variações, nada mais. Nada se cria.

Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.


Nada é inacessível no silêncio ou no poema.

(...)


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 147.

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