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| Praia dos 3 Castelos- Portimão |
Não tenho muito tempo para o mar
Para nadar no mar para pescar
Para nadar e amar não tenho tempo
Para outras coisas em ar: o frio aperta
Os ossos doem o coração palpita.
Vou pela praia contra o vento mas
Sei que tudo agora é sempre assim
Contra a corrente o tempo o próprio pensamento
Na areia mole os pés vão-se enterrando
Já não batem o crawl como batiam
Já não logram
correr como corriam
E no entanto o tempo agora é de corrida
Contra o tempo se corre contra o tempo
Contra o tempo se corre e assim se morre
Em frente ao mar olhando a desmedida
Distância entre a tão curta vida e o amor dela
Sobretudo ao crepúsculo quando o mar
Nos interpela e nos apela e a caravela do coração se põe de novo a navegar
Mesmo sabendo que já não há partida
E que as rimas em ar estão a acabar
E todo o tempo agora é contra o tempo
E mesmo sem correr só há corrida.
ALEGRE, Manuel, Livro do português errante, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2022, p. 45.

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