segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Canção do tempo que passa

Praia dos 3 Castelos- Portimão 


Não tenho muito tempo para o mar

Para nadar no mar para pescar 

Para nadar e amar não tenho tempo

Para outras coisas em ar: o frio aperta

Os ossos doem o coração palpita.

Vou pela praia contra o vento mas 

Sei que tudo agora é sempre assim

Contra a corrente o tempo o próprio pensamento 

Na areia mole os pés vão-se enterrando

Já não batem o crawl como batiam

Já não logram 

correr como corriam

E no entanto o tempo agora é de corrida 

Contra o tempo se corre contra o tempo

Contra o tempo se corre e assim se morre

Em frente ao mar olhando a desmedida

Distância entre a tão curta vida e o amor dela

Sobretudo ao crepúsculo quando o mar

Nos interpela e nos apela e a caravela do coração se põe de novo a navegar

Mesmo sabendo que já não há partida

E que as rimas em ar estão a acabar 

E todo o tempo agora é contra o tempo

E mesmo sem correr só há corrida.



ALEGRE, Manuel, Livro do português errante, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2022, p. 45.

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