quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Olhei pelas margens do anoitecer


Rio Tejo

Olhei pelas margens do anoitecer 

Numa conversa com o mar 

Com jeitos de o olhar

Devagarinho. 

(...)

Conversei com o mar

Ou talvez com o rio

Chegado a esse cheiro que demora

Que nos abraça e nos namora

Já por esse cheiro que será saudade 

Rio, mar e cidade.


ANTUNES, Fernando Machado, ... como quem lisboandando, Lisboa,  Guerra e Paz Editores, 2022,  p. 16.

Mercado de Natal


 Luxemburgo 

Iluminação de Natal


 Lisboa 

Em redor das mãos

 Ouve

O tempo bate como um coração puro


Deixa que o odor velho do barro se misture com a noite

Enquanto a água em silêncio envolve os séculos 

Pelo limo do mármore 


Desliza ao fundo o barco abrindo água 

O tempo imperceptível 

E deixa ainda que a palavra repouse no teu colo

Enquanto em cima a noite explode

E as madrugadas navegam nas artérias todos os lugares

Os canais fluidos do amor


Agora que a manhã absorve os primeiros sussurros do fogo

E sobre as águas a morte sobrevém

Os corpos constroem no suor a última Atlântida

De pedra e água 


Passa por nós a vida e apenas restam marcas

Alguns vestígios no olhar

Passa por nós o tempo e restam os amigos

Sempre iguais


Esqueceste o teu rosto de perfil para a noite

Onde efémeros lugares habitam a memória 

E eu revejo interminavelmente todos os nomes


O teu olhar roubou pequenos brilhos às estrelas


Olho em redor das mãos 

Sorris

E à nossa volta é tudo só vestígios.


RIBEIRO, Rui Casal, Escrever a água, Lisboa, Edições Colibri, 2018, pps. 20-21.

Sempre que chorares, nascerás uma outra vez

 COUTO, Mia, Tradutor de chuvas, 3.a edição, Alfragide, Editoral Caminho, p. 23.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Passos elvenses





 

Assim do nada

Quando a noite visita e belisca assim do nada. Hora em que os poetas alindam a madrugada, na rima dos versos que desenham bonita a cidade.

Onde vagueiam, perdidos, ou encontrados, os que habitam a SAUDADE e a SOLIDÃO.

Os de dentro e os vindos de fora.

ANTUNES, Fernando Machado, ... como quem lisboandando, Lisboa,  Guerra e Paz Editores, 2022,  p. 23.