Antes, eu era uma pedra das montanhas
E tudo em tudo estava reunido -
O silêncio e a sombra, a voz e a lua.
antes, eu era uma pedra.
depois o animal saiu da esfera dessa poeira
prensada pelos milénios e espojou-se na relva.
Veio uma luz brilhante e disse -
Esta é a tua vida, tens um prazo.
E eu quis que a alegria batesse palmas
E dissesse- isto é a minha vida.
Sentei-me na relva e comi-a três vezes por dia.
Imenso é este mar de flores, o mundo.
Podem dizer o que disserem sobre a morte
Haja o que houver para além desse portão-
Conheci o sabor das ervas verdes, dei-lhes nomes
Não voltarei mais a ser a pedra das montanhas.
A luz brilhante pode proclamar- não valeu de nada a tua vida.
Isso é muito mais. Mas não poderá dizer - Tu não acontecesse.
Acontecido, e essa é a minha honra desmedida.
JORGE, Lídia, O Livro das tréguas, Lisboa, Edições D. Quixote, 2019, p. 13.
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