Não sei a quem entregar a minha vida.
Se às paredes brancas que me cercam
Se à lonjura azul que nada cerca
mas aproxima.
Aproxima-nos, é bom de ver.
Estou no meio, oferecida, sem roupas
sem divã, sem cobertor, sem compressas
de coração à mostra, descoberto sob a pele
exposto como o de Jesus Cristo
na litografia da parede.
Um raio, talvez queira a minha vida.
Uma torrente, talvez queira a minha vida.
A poeira talvez queira a minha vida.
O cão, talvez o cão que cheira a estrume
e lambe as feridas, queira a minha vida.
Talvez ele me ladre.
O Livro que procuro não quer a minha vida.
JORGE, Lídia, O Livro das tréguas, Lisboa, Edições D. Quixote, 2019, p. 26.
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