Correm turvas as águas deste rio
Que as do céu e as do monte as enturbaram,
Os campos florescidos se secaram
Intratável se fez o vale, e o frio.
Passou o verão, passou o ardente estio,
Umas cousas por outras se trocaram,
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento, ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida,
O mundo, não, mas anda tão confuso,
Que parece que dele se Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece.
Para ti Hugo, que o eterno descanso te dê a felicidade que mereces
Andrade, Eugénio, Sonetos de Luís de Camões escolhidos por Eugénio de Andrade, Lisboa, Assírio e Alvim, 2000, p. 16
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