segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O tempo é uma questão de poesia


Muitas vezes pensamos no que temos

Pela frente quando a noite se aproxima. Há

Uma súbita consciência de que o céu 

Ficará vazio, e só um ruído de insectos

Perturbará o silêncio do mundo. No entanto,

Abro a rede que usei quando as palavras

Passavam à minha frente: e elas saem

De dentro dela e enchem a página, numa ordem

que segue o ritmo desse canto que ouvi

Quando andei pelo campo da estrofe. É

como se um novo sentido surgisse desse

ritmo e fizesse cantar o silêncio. 

Júdice, Nuno in A mais frágil das moradas - poemas à memória de Eduardo Lourenço, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2023, p. 102.

Sem comentários: