Muitas vezes pensamos no que temos
Pela frente quando a noite se aproxima. Há
Uma súbita consciência de que o céu
Ficará vazio, e só um ruído de insectos
Perturbará o silêncio do mundo. No entanto,
Abro a rede que usei quando as palavras
Passavam à minha frente: e elas saem
De dentro dela e enchem a página, numa ordem
que segue o ritmo desse canto que ouvi
Quando andei pelo campo da estrofe. É
como se um novo sentido surgisse desse
ritmo e fizesse cantar o silêncio.
Júdice, Nuno in A mais frágil das moradas - poemas à memória de Eduardo Lourenço, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2023, p. 102.
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