domingo, 2 de novembro de 2025

Eu sou nada e esse nada deseja ser

Se eu sou nada esse nada deseja

Ser e só no amor encontra a consistência 

Que envolve o nada que o acolhe e o liberta

Para ser oferenda a ti deus ignorado 

O que eu sou é pouco para ti e é demais

e só o zero em mim é o teu círculo 

e só no seu silêncio está o teu nome

Nada sabendo de ti sei que és o Simples

e se de ti não ouço o mais leve murmúrio 

é porque tu habitas o silêncio de todos os silêncios

E é por esse silêncio que morro e ressuscito


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 303.

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