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| Évora |
Na sombra e no frio da noite os meus sonhos jazem.
Um frio maior cresce do abismo, e decresce.
Toca-me o coração de dentro a Mão que conhece.
As estrelas sobem. Por cima de mim se desfazem.
Ah, de que serve o sonho? O que acontece
Não é o que nós queremos, mas o que os Deuses fazem.
O silêncio oscila. Na inércia da hora paira
Um murmúrio ansioso da sombra.
A minha vontade é um acto alheio, um gesto visível
A olhos para quem o mundo visível é o que nós não vemos.
De que braço é todo o meu ser um só gesto abstracto?
Que movimentos no ar são as minhas acções queridas?
Falta ao meu senso de mim um ajuste e um tacto.
Jaz no chão com meus sonhos a cinza de todas as vidas.
PESSOA, Fernando, Poemas esotéricos, Porto, Assírio e Alvim, 2020, p. 54.

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