sábado, 15 de novembro de 2025

Sono

O início do olhar, a dimensão das coisas 

E a sombra à volta, o próprio corpo,

As casas, a largura do céu, ao longe um rio.

Encontramos depois aquilo que existe

dentro de nós mesmos, para principiarmos

a descansar. Adormecemos. A noite

vem ao nosso encontro e com ela chegam

outras imagens. São mais leves, trazem-nos

de um rio a água, do céu a transparência, 

das casas o que era o seu acolhimento, 

do corpo a inquietude. De tudo isto fica

também o esquecimento, uma outra imagem 

que é a do nada. Julgamos ter sonhado, 

mas foram os ramos da noite que tocaram

O nosso rosto. Feriram-no. Acordamos assim




GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 73.

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