domingo, 16 de novembro de 2025

Só muito tarde percebi

Só muito tarde percebi que

O nosso amor era apenas um

Inquilino temporário da nossa pele

Roubado sabe-se lá a quem

Até ao dia em que disseste tenho pressa 


E aquela espessura transparente que

Só na cama as almas ganham 

Desapareceu  como se descesse 

Sem ruído as escadas das nossas noites

E do que restava dos nossos corpos

- peças roídas de engrenagens vazias

Que te habitavam até saíres de mim

Como de um lugar incómodo.


VIEIRA, Alice, Olha-me como quem chove, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2018, p. 22.

Sem comentários: